Contextualização

Centro político e religioso das Minas Gerais ao longo dos séculos XVII e XIX, as cidades de Ouro Preto e Mariana mantêm preservados seus acervos documentais, arquitetônicos e artísticos, constituindo-se, assim, em pólos de atração de historiadores das principais universidades internacionais e dos mais renomados centros de pesquisa brasileiros.

Em seus arquivos encontram-se depositados documentos de riqueza incomensurável, em cuja diversidade se reflete a projeção que a região ocupou dentro da América Colonial, no Império Ultramarino no século XVIll e, no oitocentos, juntamente com outras Comarcas Mineiras, no processo de Formação do Estado Nacional Brasileiro.

O Museu da Inconfidência, em Ouro Preto, além de abrigar um expressivo conjunto de arte sacra do século XVIII mineiro, conta também com um variado e rico acervo documental. Livros dos Autos da Devassa da Inconfidência (principalmente aqueles referentes aos réus eclesiásticos), o conjunto dos processos que tiveram curso na justiça de Ouro Preto durante os séculos XVIII e XIX, os manuscritos musicais descobertos por Francisco Curt Lange (pesquisador da música colonial) somam-se aos numerosos traslados da devassa de Minas Gerais e do Rio de Janeiro que haviam permanecido em Portugal, como propriedade da família do Conde de Galveas.

A Coleção Casa dos Contos de Ouro Preto talvez reúna o fundo fiscal colonial mais importante do país. Trata-se do acervo documental conservado na forma de microfilmes produzidos ou recolhidos até 1772 pela Provedoria e, a partir daquele ano, pela Junta da Real Fazenda da Capitania de Minas Gerais. As séries trazem informações sobre confiscos, rendimentos reais, dízimos, entradas, subsídio literário, décima predial, entre outros, o que permite que se prossiga investigando o nosso passado colonial e imperial a partir das questões constantemente repostas pelo presente.

Composto por milhares documentos, o Arquivo Histórico da Casa do Pilar reúne séries documentais relativas à inventários post-mortem, testamentos, ações cíveis, processos crime e jornais mineiros do século XIX Também de natureza cartorial, o Arquivo Histórico da Casa Setecentista de Mariana compõe-se de milhares de documentos, de origem semelhante aos acima indicados, cabendo destacar a magnífica coleção de 22 mil ações cíveis dos séculos XVIII e XIX muitas delas impetradas por escravos, por ocasião de promessas de liberdade não cumpridas.

Outro acervo de grande importância para o estudo das relações entre Estado e Igreja, bem como dos movimentos associacionistas dos séculos XVII e XIX, assim como da história social e demográfica do Brasil, é o conservado no Arquivo Eclesiástico da Cúria de Mariana, cidade onde se instalou o primeiro bispado mineiro, em 1745.

De natureza administrativa é a documentação encontrada no Arquivo Histórico da Câmara Municipal de Mariana e da Casa dos Contos de Ouro Preto. Atualmente, o acervo do AHCMM encontra-se sob a guarda do Departamento de História (DEHIS) do Instituto de Ciências Humanas e Sociais da UFOP que, em parceria com o Arquivo Público Mineiro, procede à microfilmagem de boa parte da documentação ali depositada. Os documentos que fazem parte da seção de códices datam dos séculos XVII a XX, especificamente de 1711 a 1971, e referem-se a três fundos documentais: o da Câmara Municipal de Mariana, com aproximadamente 800 volumes, na sua maioria livros de despesa, receitas, impostos, multas, atas e censos de população; da Prefeitura Municipal de Mariana (cerca de 120 volumes) com registros de contabilidade, decretos, leis, portarias e editais e da Coletoria Estadual (aproximadamente 90 livros) contendo registros de pagamentos de imposto territorial, industrias, profissões.

A UFOP conta ainda com o acervo da Escola de Farmácia, criada em 1839 e, no Brasil e na América do Sul, primeira instituição de ensino farmacêutico desvinculado do curso médico. Além de contar com Biblioteca de obras raras e substantivo acervo documental e museológico, já incorporado ao Museu da Pharmácia, a Escola de Farmácia possui documentação que nos remete aos primórdios da prática acadêmica farmacêutica em nosso pals. Seu acervo, além de permitir uma rica constituição da vida institucional da Escola, possibilita a reconstituição da trajetória da prática cientifica em nosso pais.

Em razão da sua condição de capital provincial, Ouro Preto foi escolhida como sede para abrigar em 1876 uma das mais importantes instituições de ensino de Minas Gerais, a Escola de Minas,  que juntamente com o Seminário do Caraça "realizaram trabalho expressivo em matéria de educação, valendo pelo que foi feito no preparo de pessoal e pelo acento de originalidade dado à vida de área. Dai o seu relevo, justificativo de atenções. Mais que simples escolas, são unidades formadoras marca regional" - nas palavras de Francisco Iglesias, na introdução ao livro intitulado A escola de Minas de Ouro Preto: o peso da glória, de José Murilo de Carvalho, ambas. Sobre isso atualmente merece importante destaque o acerco do Museu de Ciência e Técnica da Escola de Minas.

A Biblioteca de Obras Raras Professor José Pedro Xavier do Veiga da Escola de Minas possui cerca de 22.000 obras, acumuladas ao longo de mais de 100 anos de existência, e conserva seu espaço e mobiliário originais. Seu acervo inclui periódicos e obras de referência datadas do século XVII ao XIX. Complementam esse acervo, cabe sublinhar a existência três outros. A Biblioteca do Arquivo da Casa do Pilar conta com cerca de 17 mil volumes, com ênfase em livros de história de Minas Gerais. A Biblioteca da Casa dos Contos possui aproximadamente 8 mil livros, contando inclusive com inúmeras obras dos séculos XVIII e XIX Por último, cabe ressaltar o importância da Biblioteca do Palácio Episcopal de Mariana, denominada "Museu do Livro, que dispõe de 4 mil valiosas obras, em sua maior parte dos séculos XVI-XVII, havendo aí riquíssimo acervo musicológico para o referido período.

Mais importante, porém, é assinalar que essas instituições têm servido como suporte para pesquisas desenvolvidas por professores e alunos do DEHIS, permitindo estudos eruditos em fontes primárias, sejam elas manuscritas ou impressas. Nesse contexto, o Departamento do História da UFOP vem consolidando seu papel na aglutinação, preservação, dinamização e aproveitamento dos acervos presentes na região, o que permite a continuidade do processo de pesquisas a respeito da América portuguesa e do Brasil pós-independência, com ênfase em Minas Gerais.